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Movimento e forma na Grafologia sob o olhar psicanalítico


Em grafologia, o conceito de movimento é dado segundo a mudança de direção da massa gráfica que vai ocupando o espaço disponível. Sob o olhar psicanalítico, existe o movimento e a forma no momento da escrita!

Pesquisando os conceitos da Física – movimento, velocidade, massa, inércia, arrasto, atrito e dinâmica – verificamos que há uma correspondência destes com alguns conceitos da grafologia. Com base nas experiências adquiridas na elaboração de perfis grafológicos e na aplicabilidade de tais conceitos, este artigo é uma forma de descrevê-los.

O que é grafologia?

Como você sabe, a grafologia é o estudo da personalidade por meio da escrita. Em resumo, trata-se de uma ciência porque lança mão de um método e de uma prática.

O estudo da escrita considera a forma e o movimento das letras; a pressão com que o escritor segura o lápis e a que toca no papel. É, em síntese, o estudo da dinâmica do espaço gráfico como um todo. Contamos em detalhes aqui.

Como ocorre o movimento na grafologia?

Movimento é o deslocamento da massa na folha em branco. Ao escrever, o indivíduo tem à sua frente um espaço vazio que o convida a explorar o que vem à frente e a expressar o que aprendeu a construir: a forma. Esta simboliza a materialização do instinto, a simbolização de seus desejos. Ela é a representação daquilo que não pode ser percebido de imediato. Nesse sentido, representação é entendida como a ação de substituir algo invisível por algo físico, visível e apresentável. A forma é, portanto, no pensar psicanalítico, o significante (o símbolo).

Já o significado não é o sentido da palavra, mas do gesto gráfico levado a dar uma estrutura visível ao impulso (força vital). A forma, por conseguinte, é impulsionada pelo movimento e dará sentido à expressão subjetiva de cada escritor.

Em grafologia, estuda-se não apenas o que é apresentável, mas sobretudo o que não é falado, o indizível. A forma; o tamanho das palavras; como elas se ligam entre si; a força empregada na caneta e no papel; a qualidade do traçado que dá contorno ao gesto gráfico; a inclinação dos traçados e os espaços em branco são elementos que expressam a relação do escritor com o tempo e o espaço, e como ele lida com o mundo e com o outro.

O que interessa ao grafólogo é o que escapa ao controle consciente e volitivo na manifestação da espontaneidade do gesto. Quanto mais espontâneo, mais o autor se revela.

Ação e reação do escritor

Ao percorrer o espaço de escrita à sua frente, interagindo com o papel, o escritor vai agir e reagir, por meio da caneta, com o que ele possui de mais “sagrado”: seu impulso vital. Essa energia é resultado de duas forças: a que se coloca na caneta e a que entra em contato com o papel. A primeira é livre, vem do instinto, do mais primitivo do homem. A segunda é gerada pela relação instalada entre o instinto e o meio social e toda sua exigência. Ambas podem construir a forma com contornos nítidos, bem definidos e limpos ou destruí-la, torcendo-a, quebrando-a ou transformando-a num traçado frouxo e sem vida.

Assim, o movimento revela o temperamento de quem escreve, enquanto a forma vai revelar a estrutura social internalizada ou não pelo individuo ao longo de seu desenvolvimento. Esses dois conceitos, em equilíbrio, revelarão a maturidade da personalidade do indivíduo e, nessa relação, um não prejudica, nem domina o outro porque atuam juntos. São os dois, em harmonia, que revelam a inteligência e a uniformidade do humor; a maturidade nas relações entre o eu e o tu. A estrutura dos traços e o deslocamento destes no espaço e no tempo resultam na escrita.

Quando estudamos o espaço gráfico, a forma da letra e a velocidade que assumem essas estruturas no campo de forças podem ser impulsionadas ao entrar em contato com a folha em branco. Esse contato entre a caneta e o papel pode produzir atrito, arrasto ou, ainda, dinamizar o movimento (acelerando ou desacelerando), levando a massa gráfica a várias direções no sentido de ocupar todo o espaço gráfico.

Na Física, existem as três leis de Newton. Em um estudo comparativo, podemos relacionar a aplicabilidade destas ao campo da grafologia, como descrito a seguir.

Lei da Inércia na grafologia

Essa primeira lei, que desencadeou as demais, atesta que um objeto em repouso ou em movimento retilíneo uniforme tende a permanecer nesse estado se a força resultante sobre ele é nula. O princípio da inércia pode ser observado em várias situações tais como: um passageiro em pé, dentro de um ônibus parado que acelera bruscamente, tende a ter o corpo jogado para trás, para manter o seu estado de repouso; um corpo só sai do repouso total se houver outra força sobre ele. O mesmo acontece se ele estiver em linha reta.

Aplicando a lei da inercia ao campo da grafologia, temos a situação de um recorte de escrita em um papel sem pauta. Ao tocar a folha em branco com a caneta, a princípio, têm-se duas forças interagindo, simultaneamente, para dar forma ao pensamento. A que colocamos na caneta é a tensão e a outra que entra em contato com o papel é a pressão propriamente dita.

A segunda força é resultante do contato com a superfície do papel, a pressão propriamente dita, que decorre do atrito gerado nesse contato. A folha na qual escrevemos simboliza o social, o contato com o outro – escrevemos para alguém –, surgindo, então, a comunicação entre o emissor e o receptor. Há uma expectativa de quem escreve e de que receberá o escrito. Nessa relação, forma-se um vínculo, mesmo que seja um outro internalizado.

O ato de escrever não só revela a personalidade de quem escreve, mas também representa um alívio de tensão por projeção dos instintos mais primitivos. Para alguns é prazeroso transformar em palavras escritas seus desejos e anseios, aliviando suas tensões e angústias.

Semelhantemente à Lei da Inércia, no estudo da grafologia observa-se que a massa gráfica, composta pelo conjunto de traços, desde o momento em que entra em contato com uma superfície, gera movimento. A estrutura da letra em si é estática até que sobre ela se empregue uma força que articule os traços e a impulsione, fazendo-a se deslocar no espaço em variadas direções.

Na produção do grafema, acontecem pequenos movimentos de construção que remetem a algo aprendido na infância. Estes, no ato da escrita, são resultantes da intenção em escrever.

Assim, usamos a pulsão (instinto) e a pressão (energia em contato com o papel) que geram energia e força, impulsionando o gesto gráfico na construção da forma, estrutura que dará a sustentação e a apresentação do indizível, das tendências pulsionais do indivíduo. O movimento pode ser retilíneo uniforme ou retilíneo uniformemente variável, conduzindo essa estrutura em diversas direções, ocupando os espaços. No ato escritural, a inércia se daria no movimento estático. Há energia, mas ela não é utilizada de modo a matizar a personalidade; não dá o colorido todo especial que personaliza a escrita.

Princípio Fundamental da Dinâmica na Grafologia

Essa é a segunda lei de Newton e afirma que a força resultante que atua sobre um corpo é igual ao produto de sua massa pela aceleração. Em se tratando da grafologia, significa dizer que a força resultante que atua sobre um corpo é determinada pela variação da quantidade de massa (espessura do traço, quantidade de tinta) interagindo com a velocidade com a qual se desloca no espaço gráfico em relação a um intervalo de tempo (ritmo).

Não trataremos aqui de quantificar o tempo, mas de considerar a qualidade do movimento diretamente relacionado ao deslocamento do corpo (forma) e, desse modo, à aceleração de maneira dinâmica no sentido da esquerda para a direita. O tempo é avaliado em relação à brevidade, objetividade e rapidez com que se atinge a meta da escrita: a comunicação revelada nas disposições das margens.

A pressão em relevo, mais a espontaneidade na forma da letra em conjunto com as ligações criativas relacionadas a nítida impressão de velocidade e agilidade resultam na definição da qualidade do movimento. A pressão que produz um movimento dinâmico atua na forma (corpo da letra) numa relação significativa com a velocidade.

Quando o escritor traça as letras de maneira pesada (grossa –escola italiana), criando um arrasto ou atrito, revela uma estrutura estagnada e sem vida ao ponto de desacelerar o movimento, aumentando ou retardando o fluir da esquerda para a direita (próximo ao movimento retardado). Aqui, a forma e a relação entre tensão e pressão fazem o escritor revelar suas exigências pessoais, que são carregadas de energia instintiva pelo aumento de tensão, o que o impede de fluir para o outro.

Nesse movimento, não há o retorno dos traços regressivos, mas o escritor transita mais tempo no eixo vertical, o do eu, investindo altas doses de energia em suas próprias ideias e desejo de afirmação.

Lei da Ação e Reação na Grafologia

Essa é a terceira lei de Newton. Ela afirma que, para toda força de ação que é aplicada a um corpo, surge uma força de reação em um corpo diferente. Essa força de reação tem a mesma intensidade da força de ação e atua na mesma direção, mas com sentido oposto. O impulso da pressão e da tensão dá origem à construção do traçado. Nesse processo, existe uma renovação de energia para vencer o conflito (atrito) entre forças internas e externas. Há, portanto, para cada ação uma reação característica, dependendo da energia vital do escritor revelada pela qualidade do traçado e quantidade de tinta dispendida para compor as bordas que formam o contorno das letras.

A folha que é dada para que a pessoa produza uma redação significa o espaço usado para comunicação com o outro, portanto, simboliza o espaço social e todas as exigências impostas pelo outro. Ação e reação podem conduzir a matéria gráfica em sua relação com o tempo a ser usado e com o espaço a ser explorado. Este se caracteriza pelo movimento da esquerda para a direita, em várias direções, e revelarão características importantes por meio do estudo da condução do traçado. Para isso, o grafólogo faz uso dos sinais grafológicos.

Em Física, a velocidade é o corpo em movimento seguindo uma direção; é o deslocamento deste em relação ao espaço e ao tempo. O escritor que recorre, instintivamente, a uma estrutura regular, demonstra uma tendência e cuidado de não destruir a forma nem matizar o traçado ou resiste para não mostrar as nuances de sua personalidade, a fim de manter o controle de seus instintos. Em sua escrita, há uma repetição constante da forma, priorizando a estrutura em detrimento do movimento, não se deixando levar pelos instintos, fruto de um superego exigente.

Essa repetição do movimento estático revela, pelos gestos do escritor, uma atuação de conteúdo inconsciente, o que pode ser a causa de uma conduta saudável ou patológica, regida pelo inconsciente na busca de repetição de acontecimentos marcantes que constroem a existência do indivíduo.

Equilíbrio entre tensão e pressão na escrita

Outros escritores não conseguem um equilíbrio satisfatório entre a tensão e a pressão, então impulsionam a estrutura da letra sem, contudo, defini-la, deixando-a insuficiente em sua forma. Há um deslocamento no espaço gráfico, mas de modo agitado, sem uma direção específica. Esse movimento cria uma indecisão na direção dos instintos, o que causa frouxidão no traçado, como se este flutuasse dentro do nada. Esse impulso produz variações na zona média, expressão de uma função egóica comprometida e ineficaz.

No movimento fluido, o impulso dos instintos move a estrutura fazendo-a se deslocar dentro do espaço gráfico, produzindo variações no ego (zona média). Nesse movimento, o ego é representado por uma borda nítida e firme, porém, flexível. O bom contorno das letras ovais permite que se distinga o limite entre dentro e fora; entre o eu e o não eu, revelando um ego eficaz em sua tarefa de mediar as necessidades da energia instintiva e as exigências da sociedade. Para isso, a instância egóica, representada pelas letras ovais, faz uso de mecanismos de defesa mais evoluídos, tal como a sublimação.

Estrutura da letra na escrita

No movimento fluido, vibrante e dinâmico o impulso motriz nem é forte, que enrijece a estrutura do traço, nem é frouxo, que a deixa frágil, mas firme e maleável. Aqui, a estrutura da letra suporta o impulso e este dá vida ao traçado. Esse tom de vitalidade é dado sobretudo pelo relevo do traçado. Tal característica é, sobretudo, marcada pelo contraste entre o escuro e o claro do papel; pela expressão da nuance e do brilho da personalidade. O impulso vital sai em busca de realização e encontra uma forma própria, que não se impõe, mas é aceita em sua espontaneidade.

Ao mesmo tempo, o instinto busca um símbolo para servir de representação numa linguagem real, para se comunicar e se expressar. É nessa busca de satisfação que a estrutura se deixa impulsionar pelo movimento que lhe dá vida, respeitando os espaços em branco; cada gesto, letra, palavra e linha em seu espaço e a seu tempo.

Psicanálise e Grafologia

Em Psicanálise, o que faz o ego adquirir, ao longo do desenvolvimento, uma estrutura plástica, dinâmica e harmoniosa é o consequente processo satisfatório de individuação. Quando a função egóica de fato atua, mediando o processo de transformação da energia dos instintos em atos de maior valor social e cultural, há um controle do princípio do prazer pelo princípio de realidade. Haverá sempre variações das tensões ao longo do texto pois o movimento na escrita é produzido pela energia dos afetos.

A composição das letras, palavras e frases sempre apresentará movimento, testemunha da emotividade do autor. No texto manuscrito haverá sempre uma diferença entre o branco-negro no papel, o que revelará como reagimos a presença do outro e a nossa necessidade de contato com a realidade. Há a possibilidade de uma tendência em algumas pessoas a produzir formas e movimentos mantendo um controle rígido de sua emotividade, mas nunca conseguira escrever como uma máquina. De alguma forma, o olhar grafológico identificará nesta escrita, uma tendência a criar uma imagem de si que acha melhor para se apresentar ao outro.

O campo da Psicanálise e o da grafologia possuem um denominador comum, ambos compreendem a construção da subjetivação. A Psicanálise busca identificar e tratar o sofrimento humano pela escuta, enquanto a grafologia possui técnicas e métodos para identificar a dinâmica da personalidade por meio da escrita. As duas ciências possuem uma história de pesquisa inesgotável devido à complexidade de seu objeto de estudo: o comportamento humano.

Alíria Vana Viana de Souza é psicóloga (FAFIRE); pós-graduada em Psicologia Organizacional (UNICAP); pós-graduada em Psicologia Clínica Cognitivo Comportamental (FAFIRE); Formada em Grafologia (Centro de Estudo de Grafologia Paulo Sérgio Camargo); Formada no Programa de Enriquecimento Instrumental - PEI (Núcleo de Desenvolvimento do Potencial Cognitivo); Professora da Capacitação e de Grafologia Infantil na Grafologia Brasil e tem Atuação direta em Psicologia Escolar.

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